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quinta-feira, 16 de abril de 2009

O que é, afinal, envelhecer?

A velhice tem sido pensada, quase sempre, como um processo degenerativo, oposto a qualquer progresso, como se nessa etapa da vida deixasse de existir potencial de desenvolvimento humano. O estereótipo tradicional da velhice é o de pessoas doentes, incapazes, dependentes, demenciadas, rabugentas, impotentes, um problema para a sociedade. Envelhecer é um processo inerente a todos os seres humanos, que se inicia na concepção e ocorre todos os dias das nossas vidas. A cada instante tornamo-nos mais velhos que no instante anterior. Todos envelhecemos e os mais jovens, um dia, serão os idosos do seu tempo. Este processo pode resultar em duas situações-limite: uma com excelente qualidade de vida e outra com qualidade de vida muito má. Entre estes dois extremos, há diversas situações intermédias...





Em qual dos extremos vamos chegar depende de inúmeras variáveis, algumas pertencentes a nós mesmos como indivíduos e, as demais, dependentes da sociedade e do meio em que vivemos.

Envelhecimento activo



O envelhecimento activo é um aspecto central, devendo ser promovido quer a nível individual, quer a nível colectivo.

Individualmente, o envelhecimento activo pode ser entendido como o conjunto de atitudes e acções que podemos ter no sentido de prevenir ou adiar as dificuldades associadas ao envelhecimento. As alterações físicas e intelectuais que ocorrem com o envelhecimento variam de pessoa para pessoa e dependem das características genéticas e hábitos tidos durante a vida. É sempre oportuno salientar a alimentação saudável, a prática adequada de desporto, uma boa hidratação, repouso e exposição moderada ao sol, não esquecendo as consultas de seguimento do médico assistente. O bem-estar psíquico e intelectual (memória, raciocínio, boa disposição) − fundamentais no envelhecimento activo e saudável − também de protegem e promovem com cuidados permanentes: leitura regular, participação activa na discussão dos assuntos do quotidiano, realização de jogos que estimulam raciocínio, manutenção de actividades dentro e fora de casa (passeios, visitas, voluntariado…), participação em tarefas de grupo ou eventos de associativismo, entre outros.

Mas o investimento individual da pessoa idosa (e respectivas famílias), carece obviamente de políticas e infrastruturas comunitárias. O PNSPI prevê o envolvimento dos serviços de saúde mas dá especial ênfase ao estabelecimento de parcerias e o bom aproveitamento dos todos recursos comunitários existentes e concorrentes para os objectivos do programa: autarquias, instituições de acção social, estabelecimentos de ensino, entidades privadas, etc...

Em vários países da Europa (Espanha, Holanda, Reino Unido, Suécia, entre outros) estas orientações têm sido implementadas, com particular relevo de programas de natureza inter-geracional. Também em Portugal é defendida a importância destas iniciativas, sendo que as escolas têm um papel importante a este nível. Há investigadores nacionais que defendem até a necessidade de “educar para a velhice” desde as idades mais precoces. Com efeito, na abordagem da terceira idade, o encontro e convivência das várias gerações através de eventos comemorativos de datas especiais, envolvimento no processo de pesquisa sobre as tradições, costumes, depoimentos de memórias, transmissão de conhecimentos práticos (gastronomia, artesanato, profissões em vias de extinção, saberes agrícolas…). Acima de tudo, há que assumir e transmitir que a pessoa idosa têm uma vida de trabalho, experiência e sabedoria, que não pode ser negligenciado e desperdiçado, em benefício da própria sociedade. Por outro lado, educam-se os mais jovens para os afectos e valores de respeito, dignidade, solidariedade e responsabilidade para com os mais vulneráveis. Um dia, também eles serão pessoas idosas, necessariamente diferentes, mas sempre iguais no valor de pessoa humana!

Envelhecimento da sociedade



Foi sobretudo a partir da segunda metade do século XX que emergiu um novo fenómeno nas sociedades desenvolvidas − o envelhecimento demográfico, ou seja, o aumento significativo do número de pessoas idosas. Com isto, surgiu a necessidade, a nível internacional, de caracterizar o fenómeno, de repensar o papel e o valor da pessoa idosa, os seus direitos e as responsabilidades do Estado e da sociedade para com este grupo específico da população.

Como disse Kofi Anam (2002): “A expansão do envelhecer não é um problema. É sim uma das maiores conquistas da humanidade. O que é necessário é traçarem-se políticas ajustadas para envelhecer são, autónomo, activo e plenamente integrado. A não se fazerem reformas radicais, teremos em mãos uma bomba relógio a explodir em qualquer altura”.

No passado dia 1 de Outubro, celebrou-se o Dia Internacional das Pessoas Idosas e, para este ano, a Organização das Nações Unidas (ONU) propôs o tema “Direitos das Pessoas Idosas”. A mesma Organização recomendou que as intervenções em prol desta demanda se façam, prioritariamente, nas seguintes áreas:

  • Pessoas idosas e desenvolvimento;
  • Promoção da saúde e do bem-estar da pessoa idosa;
  • Ambientes propícios e favoráveis à pessoa idosa.
Esta proposta, internacionalmente assumida, visa gerar acções que garantam e defendam o direito que as pessoas idosas têm em envelhecer com segurança, protegidos da discriminação e violência crescentes que lhes têm sido dirigidas. Esta missiva da ONU procura ainda contribuir para o reconhecimento da importância do papel da pessoa idosa no seio da família e da comunidade, e de alertar para a necessidade de combater os factores determinantes de doença e dependência.

Envelhecimento demográfico


Figura 1 - Evolução da percentagem de população jovem e idosa em Portugal (1960-2004)

Segundo o Instituto Nacional de Estatística, o abrandamento do crescimento populacional no nosso país mantém-se, assim como a tendência de envelhecimento demográfico (como resultado do declínio da fecundidade e do aumento da longevidade). Segundo a mesma fonte, a população residente em Portugal a 31 de Dezembro de 2007 era composta por 15,3% de jovens (com menos de 15 anos de idade), 17,4% de idosos (65 anos de idade e mais) e 67,2% de população em idade activa (dos 15 aos 64 anos de idade). A relação entre o número de idosos e de jovens traduziu-se num índice de envelhecimento de 114 idosos por cada 100 jovens (112 em 2006).

A propósito do Dia Internacional do Idoso e do tema lançado pela ONU para 2008, a Direcção Geral de Saúde associa-se a este espírito e subscreve as necessidades e prioridades sublinhadas pela ONU. Com efeito, o Plano Nacional para a Saúde das Pessoas Idosas (PNSPI) fundamenta-se nos princípios postulados pela ONU: independência, participação, auto-realização e dignidade do idoso. Salvaguarda ainda que a faixa etária em questão é ampla e heterogénea, devendo ser respeitada diversidade individual.

Também para Portugal, mediante o PNSPI, se assumem como prioridades de intervenção:

  • Promoção de um envelhecimento activo;
  • Adequação de cuidados de saúde às necessidades próprias do idoso;
  • Desenvolvimento de ambientes favoráveis à autonomia e independência das pessoas idosas.

quarta-feira, 1 de abril de 2009

A minha boa vida

Já tenho uma boa idade
Já estou com as pernas bambas
Minha visão tornou-se escura
E já não enxergo quase nada.

Meus cabelos já estão brancos
Mas na vida sou professor
Por uma longa existência
E experiências adquiridas.

Meu rosto está enrugado
Minha pele está abatida
Mas vivo paciente, contente
Porque tenho aproveitado a vida.

Dói aqui, dói ali
Dói a carne, doem os ossos
Os nervos também doem
Mas da vida muito eu gosto.

António Cícero da Silva